jeudi 5 janvier 2012

Portuñol Sin Fronteras, Futurista y Salvaje. 4ª y penúltima parte.

4ª Parte

-Ô Sérgio, será que não há um errinho aqui?  Por que você diz que os vietnamitas queriam fazer com que fracassaram os planos dos chineses na costa oeste africana -em Cabo Verde- ajudando a instalar um governo pro-brasileiro?- pergunta Antoine Bairral e o Santiago pega o texto que tinham editado no dia anterior, relê durante uns longos quinze minutos e depois deixa o caderno espiralado na mesa de vidro com uma batida quase que estrondosa.

-Pois é, Sérgio e Javier, acho que tem que ficar mais claro: os planos dos vietnamitas encaixavam perfeitamente e vinham a calhar com a intenção argentina e brasileira de reforçar suas posições diplomáticas, econômicas e militares em Cabo Verde e Mauritânia, e logo depois em Angola. Isto porque os vietnamitas eram aliados dos chineses, sim, mas não incondicionais. Os dirigentes do Vietnam, mais jovens e adeptos ao novo capitalismo feroz do que a gerontocracia da China, queriam ir mais rápido na luta contra a Índia. E também não era um estado subserviente dos chineses, não; tinham seus próprios planos para o futuro, e isso não incluia ficar eternamente debaixo da asa do gigante chinês que já tinham combatido, até com as armas, várias vezes na longa história em comum- disse Santiago, e outra vez larga o caderno com uma forte batida na mesinha do hall do Hotel Brodway, o que significava que Sérgio Cambiado e seu assistente, Javier, iriam ter que refazer todo o texto, sem mais desculpas.


-Bom, vejamos agora se o capítulo seguinte ficou melhor e sem essas imprecisões, heim Sérgio e Xavi?- o Santiago insistia em cutucar o Javier de vez em quando, porque sabia como se irritava quando passavam seu nome para o português, e mais ainda nesse diminutivo provocativo.

-Oká, chefe- murmurou baixinho Javier, e Antoine e Sérgio começaram a se revezar na leitura do novo texto sobre a Confederação nos anos de 2038 a 2049. Esqueceram por enquanto a bronca que tinham levado sobre o capítulo anterior:

Com a queda do último presidente da aliança MDB-PRT, Getúlio Viñas, acusado de gravíssimos cargos de corrupção, a presidência passou a ser exercida por José Gonçales, presidente do Supremo Tribunal Federal, mas com fortes vínculos com o antigo Partido dos Trabalhadores, do qual se separara quinze anos antes o PRT, agora derrotado.
No período em que Gonçales ficou no poder foram realizadas novas eleições presidenciais. Concorreram Melchior Dutra, apoiado na coligação do novo PSD de Júlio Kasseb com o PRTB, a Federação Rural Conservadora, o Yedo Cruz, líder trabalhista do antigo PCdoB, e ainda Rolando Tévez do renovado Partido Verde. Saiu vitoriosa a candidatura do M. Dutra, por ampla margem de votos.

Durante a presidência deste conglomerado de centro, foi eleita a Assembléia Constituinte que, em setembro de 2046, deu origem à nona Constituição republicana, que era a segunda da Confederação Brasil-Argentina. Embora tenha mantido a federação brasileira e o presidencialismo, a nova Constituição, como tinha acontecido também com a de 2034, fugiu bastante das linhas doutrinárias que havia determinado a velha geração dos anos de 1890 e a constituição liberal de 1891.

Para controlar melhor o poder executivo em Brasília e afiançar a aliança com a Argentina, Paraguai e Uruguai, o governo de 2046 determinou a criação de um Congresso único dos quatro países, em Porto Alegre, e determinou o comparecimento compulsório de todos os ministros ao congresso, sempre que fossem convocados, tornando-os responsáveis por cada um dos atos que referendassem; tudo podia ser acompanhado via internet pública nas praças e avenidas; e ainda recriu também as antes esquecidas Comissões Parlamentares de Inquérito, as velhas CPI dos anos de 1990 e 2010, seguindo um antiquado modelo norte-americano.

Além disso, a nomeação dos ministros não significaria a perda dos seus mandatos legislativos do momento, e o período presidencial duraria oito anos, sem reeleição. Todos os direitos trabalhistas conquistados no período petista foram mantidos no novo texto constitucional.

No contexto internacional, a presidência de M. Dutra ficou inserida nos quadros da guerra fria entre a emergente potencia da Índia, de um lado, e a China, às vezes aliada à Confederação Brasil-Argentina e outras envolvida em sérias escaramuças diplomáticas, ou de retaliação econômica, caracterizada a partir de 2047 como um remedo da antiga doutrina americana do Big Stick. Só que agora, em meados do século XXI, o porrete era voltado para os sócios menores que ficavam entre o poderio chinês e a segunda potencia aliada na Ásia, o Vietnam.

Já não mais integrados como tinham sido durante dois séculos às áreas de influência norte-americana, o Brasil e a Argentina definiram-se no plano da política externa como neutros absolutos diante das duas grandes potências asiáticas: Índia e China e o sub-imperialismo vietnamita.

-Okei, tá bom- interrompeu a leitura Santiago, ofegante, com a testa franzida ao máximo e cara de poucos amigos- entendi bastante claro a ideia, podem seguir nessa linha, mas cuidado com as imprecisões. Continue lendo Xavi, faça o favor. 

O ingresso oficial do Brasil no cenário da nova guerra fria, porém, aconteceu com a assinatura do tratado de assistência mútua, em outubro de 2047, entre Brasil e 21 estados autônomos dos antigos Estados Unidos, agora esfacelados e intervidos direta ou indiretamente pela Argentina, México-Cuba, ou pelo Brasil.
Além disso, na XXIXª Conferência Interamericana, realizada em Barranquillas, na Colômbia, a Confederação Brasil-Argentina ficou associada ao novo sistema de segurança do hemisfério ocidental atlântico, em que a envelhecida Europa entrava apenas com a experiência, uma vez que as gerontocracias governantes na Inglaterra e Alemanha não confiavam em absoluto nas novas potências latino-americanas.

Segundo as novas normas das relações externas que o a Confederação Brasil-Argentina assumiu, o presidente M. Dutra deveria esfriar as relações diplomáticas com a antiga Rússia, agora ocupada em grandes áreas da Sibéria pela China e na Manchúria pelo Vietnam. o mesmo tempo em que o Partido Comunista do Brasil, chefiado por bisneto do lendário Luís Carlos Prestes, era declarado ilegal, acusado de manter relações com a Índia, enemigo forte da China, mas potencialmente perigoso também à Confederação.

Um novo e feroz desenvolvimentismo se instalava, enquanto isso, na Argentina. O governo que sucedeu à queda do governo da Juventude Peronista da Republica (chamada pelos opositores de “Jota-perra” pela grande semelhança com os velhos fascistas do século XX) lançou um extenso programa de crescimento na área econômica. Enfatizando o desenvolvimento econômico industrial -algo que tinha sido esquecido em todo o continente à força do crescimento dos serviços, sobre tudo os informáticos e televisivos- a nova liderança argentina estabeleceu um plano de metas com 36 items, entre os quais se destravava o impulso à geração de energia limpa, principalmente eólica nas vastas planícies da Patagônia; os novos meios de transporte: trens rápidos, metrôs de superfície e a total renovação do velho subterrâneo da Cidade de Buenos Aires; a geração de novos tipos de alimentos, priorizando a plantação familiar de legumes e verduras em pequenas hortas, e desestimulando a tradicional criação extensiva de gado nos pampas, que no século XX e na primeira metade do XXI tinha aumentado a desvastação das poucas florestas remanentes para ampliar as culturas de forragem; o novo Governo Popular e Socialista investia também na indústria de base, mas sobre tudo na educação e na construção da nova capital, no Rio Grande do Sul, considerada a síntese de todas as metas.

Essa ação enérgica do governo Popular e Socialista da Argentina se baseava na utilização do Estado como um forte instrumento coordenador das tarefas do desenvolvimento, estimulando o empresariado nacional, mas também criando um clima favorável à entrada do capital estrangeiro, não especulativo, seja na forma de empréstimos a empresas europeias e dos antigos EUA, agora debaixo da influencia da Confederação, ou na forma de investimentos diretos. Assim, em 2049, o governo criou a Superintendência para o Desenvolvimento do Norte e do Leste, a chamada fronteira verde com o Paraguai e Brasil. A ideia era auxiliar o nordeste argentino e sobre tudo o Chaco em seu conjunto, e as nações indígenas da região, para integrá-los realmente ao mercado nacional.

Mas a mais significativa destas medidas todas, talvez tenha sido a criação do Comité de Estudos Automobilísticos, que ao contrário do que poderia sugerir o nome, e do que tinha acontecido no Brasil noventa anos antes, iria desconstituir aquilo que havia sido, no passado, o carro-chefe da industrialização regional, e de todas as distorções sociais, ambientais e econômicas verificadas durante o século XX e a primeira metade do XXI com o predomínio do carro individual sobre o transporte coletivo e público.

Este ambicioso programa de desenvolvimento argentino levou também o Brasil –como já foi dito- a repensar todo o sistema americano, resultando na criação da Ação Pan Americana, que redefiniu as relações internas na América Latina e de toda a região com os antigos EUA e Europa. Por meio dessa iniciativa, a Confederação procurou transformar a solidariedade pan-americana numa aliança forte entre todos os países, tentando superar de vez  o subdesenvolvimento.

A nova Argentina, em sua aliança com o Brasil ajustou nesse período à linha mestra do capitalismo social derrotando a organização do capitalismo clássico das multinacionais, tirando delas qualquer controle da economia estatal, investindo realmente no coletivo e público: em saúde, educação e bem-estar, o que modificou de vez o caráter de qualquer novo tipo de dominação imperialista. 

Ao invez da exportação de capitais –que era a fórmula típica do capitalismo monopolista surgido nos anos 70 e 80 do século XIX, e aplicado a ferro e fogo pelos EUA no século XX- a ação do capitalismo social avançado se deu pela implantação direta de indústrias, de unidades produtivas, controladas na base pelos comitês operários e nos bairros pelas células básicas do governo popular. Com isso, iniciava-se uma internacionalização controlada do mercado brasileiro-argentino, medindo e fiscalizando cada passo e aprofundando a independência econômica dos países da Bacia Amazônica de do Rio da Prata.

Continuará. Javier Villanueva, basado en dados, críticas, comentários e interpretaciones compartilhadas com Antoine Barral. São Paulo, 4 de janeiro de 2012.

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